Novas espécies de grilos da Mata Atlântica
Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Seguindo a premissa de que é preciso conhecer para preservar, 16 novas espécies de grilo foram descritas em uma dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP). As espécies foram distribuídas em dez gêneros, sendo que três também são novos.
O autor do trabalho de taxonomia, Márcio Bolfarini, identificou as espécies no distrito de São Francisco Xavier, em São José dos Campos (SP). Trata-se de uma área de Mata Atlântica que faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul, na região da serra da Mantiqueira.
“Os principais caracteres morfológicos das espécies de grilo coletadas foram estudados por comparação com espécies descritas na literatura científica”, disse Bolfarini à Agência FAPESP.
“O que nos permitiu chegar às conclusões de que trata-se de espécies ainda desconhecidas foi a soma de caracteres analisados, principalmente a morfologia das genitálias masculinas, cujas características são bem específicas para o grupo analisado. Os dados foram comparados com bases e artigos publicados em revistas nacionais e internacionais”, explicou.
A captura das espécies, realizada em 2005 e 2006, ocorreu durante a noite com auxílio de um holofote a gás com iluminador frontal. Armadilhas de solo também foram utilizadas, contendo um composto de melaço de cana, água, álcool e sal para atrair os insetos e permitir que eles não fossem deteriorados por ação de microrganismos.
As novas espécies são Anomaloterga mantiqueirae, Adenopygus heiko, Adenopygus friederickeae, Kevanemobius paulistorum, Neometrypus velutinus, Neometrypus pubescens, Neometrypus glabrous, Endecous lhanoi, Strinatia gnaspinii, Strinatia martinsis, Endophallusia gelhausii, Zucchiella xavierensis, Amanayara mariamartae, Amanayara langei, Amanayara fuscocephala e Paranurogryllus carmenae.
Além do Instituto de Biociências da Unesp, amostras dos insetos catalogados foram preservadas em álcool e serão enviadas ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), à Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, nos Estados Unidos, e ao Museu Nacional de História Natural de Paris, na França.
Análise minuciosa
Todos os espécimes coletados foram preservados em álcool e individualizados em tubos de vidro. As genitálias foram removidas e acondicionadas em pequenos tubos. Bolfarini fez tanto a análise morfométrica – levantamento de características físicas medidas em milímetros, como comprimento do corpo e largura da cabeça – como a caracterização merística, que envolve a contagem de estruturas como espinhos e esporas.
Esses caracteres e as genitálias dos insetos foram analisados em um microscópio e desenhados. Os desenhos foram repassados para papel vegetal, digitalizados em resolução de 300 dpi e analisados no programa Adobe Photoshop. Após a comparação com outros grupos de grilos, Bolfarini verificou que três espécies coletadas tinham uma somatória de características de gênero novo.
“Elas não se enquadravam em nenhum dos gêneros descritos na literatura. Com isso, além de dar 16 novos nomes para as espécies coletadas, tivemos que criar três novos gêneros para agrupar esses indivíduos, que nomeamos de Anomaloterga, Adenopygus e Kevanemobius”, explicou Bolfarini, que é presidente do Instituto Muriqui, organização não-governamental que luta pela preservação da Serra da Mantiqueira.
As espécies e gêneros descritos no estudo pertencem a quatro famílias Eneopteridae, Gryllidae, Phalangopsidae e Trigonidiidae. O trabalho, orientado por Francisco de Assis Ganeo de Mello, professor do Departamento de Zoologia, foi apresentado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do Instituto de Biociências da Unesp.
Para ler a dissertação Novos táxons de Grylloidea provenientes de um ponto localizado na vertente leste da serra da Mantiqueira paulista (Orthoptera, Ensifera, Gryllidea).
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